Corpa Drama (Áudio Monólogo + Letra)



não é fácil estar aqui.
não é simplificada a experiência
de utilizar, ocupar e exercer este corpo.

um corpo que fala por si só, mas que por muitos motivos dos quais tento esquecer, não acontece - e tem a sua trajetória emudecida, apagada, destruída no sentido mais cruel.

só serve pra estimação!

um corpo sem valor, que no auge da solidão, constrói-se em castelo para arquitetar seus desejos e projeções. já que não tem humanidade, imuniza-se de si.

agora, daqui de cima, abrigada, atrás das cortinas de minhas janelas, contemplo a vista com calma. vejo a vida escorrer pelos os meus olhos marejados de enjoo. analiso tudo, minuciosamente, invocando a deus por livre-arbítrio.

deus em mim
eus em mim
eu e mim
mim e eu
eu sou deus
deus, eu me aqui

o meu corpo não se resume apenas em ser só mais um corpo como qualquer outro ou só mais um corpo como qualquer outro corpo. ele, que ora é ela - este corpo -, é o meu esconderijo e também é minha maior prisão. o meu corpo é um presídio.

passo noites em claro, tardes em escuro, meus dias assim, pensando em como seria sobreviver sem amarras, sem nós, sem costuras e tampões. e acordo, ora sonho, criando e criticando pra mim o mesmo questionamento cotidiano:

até onde esse corpo vai?
o que mais aguenta?

calculo compulsivamente o dia em que será liberto, lamentando todos os tempos dos meus repousos, quando esta corpa drama será alforriada de expectativas que nunca
fiz questão de ser acessível.

mas sigo angustiada,
bonita, adoecida e jovem!



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