FLUÍDA KAHLO

encarcerada, arrasta-pé
sob o tapete
embebido
árduo de esperança
marcado
por instâncias
de um retardo infantil

desde criança
apalpa o novo,
o contra, o belo
pubescências
herdeira de firmeza
revolução é herança

não era farsa,
não era lenta
só não
fazia o tipo alvoroçada,
que se contenta

sábia, sabia de si
mas não queria se finalizar
pôr-se num fim do trajeto

todo dia o dia todo
toda hora toda doida
da tontura da solidão
da dadiva da dor
de se compor a fio
confeccionava-se

a música toca,
ela ainda dança, se encanta
se costura, se transborda
a voz desafinada,
incomodava
era tudo que tinha

nunca soube aonde queria estar
era tanta chance de
ser única
ser várias
de ser todas, de ser nenhuma
não ser ninguém
e nem nada

mas agradecia aos céus
por tudo, por tanto
se perder no percurso
e não encontrar a saída
_

texto autoral retirado da série poética Flor de Bicha, de Rucka de Lacaia.




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