Marginal Raiz

29 de Janeiro. Dia da Visibilidade Trans.

depois que entendi as prováveis problematizações e dificuldades em me inserir dentro desse espaço, fiquei pensando com meus botões sobre em qual local me sentiria adequada ao mesmo tempo que ficaria a vontade de expressar o que venho desenhando como #Byshalidade. o que é ser bysha? é ser trans? é ser cis? em qual bando social o meu corpo poderia se organizar coletivamente para uma possível legitimidade e institucionalização?

se você não é trans, você é cis. se você é trans, você não é cis. será se é mesmo? e se você não for nenhuma dessas coisas? qual é o meu lugar? travestis existem? o mundo é esse binário de ser uma coisa ou outra, como me ensinaram a ser e decidir sobre as minhas coisas?

uma vez refletindo sobre a bandeira de Orgulho Trans em seu surgimento, cores e significados, aprendi que a listra central branca na atual bandeira trans faz referência para aqueles que estão entre os dois sexos, em transição de um para o outro ou consideram ter um gênero neutro ou indefinido. mas, eu não me identifico com nenhuma dessas definições. não gosto dessa definição. o branco passa desapercebido. eu não.

então, naquele verão resolvi fazer algo diferente... apagar o risco branco e substituir por um risco escuro, que sentimentalmente seria expressado pelo o meu luto de existir num jogo sujo liderado por pessoas brancas/embranquecidas e o meu conflito de conciliar quem sou com a heteronormatividade dentro de um movimento relevante, mas que, contudo, carrega consigo muitos valores binários, em sua maioria, enfraquecendo uma outra parte do grupo.

eu não vou cortar o meu pau.

não quero cumprir o protocolo da transgenereidade e da transexualidade para ter minha feminilidade que já é estigmatizada, validada. por vez, na minha mente autônoma, não devo. não sou cis, logo nunca fui cisgênera. estou satisfeita com minha corpa excêntrica aos olhos do pai, ela atende todas as minhas necessidades.

dentro de ter que percorrer por caminhos antes nunca visto, me proponho a criar o meu universo  e protegê-lo, desenvolvendo uma nova configuração, transmito e demarco a minha ousadia feminina, minha desordem perante uma dinâmica compulsória, binária e colonizadora. o preto é o meu espaço, abismo e força de permanência. o risco preto não quer dizer que eu quero aniquilar a bandeira e movimento trans, mas articular minha experiência. que surjam outras... dizer que nada é estático, nem tudo é binário e tudo se modifica.

borbulhado de perguntas e respostas aquele dia, enquanto borrava de preto a faixa branca da Bandeira de Orgulho Trans no PicsArt, entendi minha função, me senti incluída e conclui ali que eu era, sim, uma pessoa trans. mas, transgênica.

neste dia da Visibilidade Trans (transexual, transgênera e transgênica), me permito a celebrar o meu corpo, os meus desejos, os meus trajetos, encontros e moradias, continuando a dizer que estou e estamos além do que é ser homem, do que é ser mulher. eu sou bysha. bysha de verdade. e você, quem você é?